quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Schumacher e os executivos: os riscos de se aventurar em outras modalidades



Conheço executivos competentes e experientes que acidentaram-se em maior ou menor grau ao tentarem praticar outra modalidade, aventurarem-se em novas pistas, pilotarem em terrenos desconhecidos ou se desentenderem com novos mecânicos

O lamentável acidente do heptacampeão Michael Schumacher trouxe além da surpresa, inevitáveis comparações entre a atividade de alto risco desempenhadas por anos a fio e a fatalidade decorrente de um simples hobby de inverno. Quantas curvas a mais de trezentos quilômetros por hora, ultrapassagens perigosíssimas, acidentes em largadas, corridas contra o relógio para a pole position, tempo ruim e pneus não apropriados, as quais confirmam e colocam a modalidade como um dos esportes mais perigosos, haja vista os exemplos brasileiros Felipe Massa e Ayrton Senna.

Experiência acumulada, profundo conhecimento da máquina, circuitos, concorrentes e ecossistema, entrosamento com a equipe, suporte e investimentos de uma grande marca em tecnologia, performance e segurança, certamente fizeram a diferença em todos estes anos. Ter começado a dirigir kart quando criança, galgado os degraus das fórmulas 3 e 2, pilotar em uma equipe de ponta, detectar eventuais problemas literalmente sentindo o carro, comunicar-se com os mecânicos em menos de 10 segundos de parada, conhecer cada curva e a maneira de dirigir em tempo quente, frio, seco ou molhado, adaptando-se aos perfis dos concorrentes é algo que não se adquire do dia para a noite. O que talvez não fosse o caso como esquiador.

Não obstante a tristeza com o incidente ocorrido, o fato é que de certa maneira podemos transportar este caso para o mundo corporativo. Conheço executivos competentes e experientes que acidentaram-se em maior ou menor grau ao tentarem praticar outra modalidade, aventurarem-se em novas pistas, pilotarem em terrenos desconhecidos ou se desentenderem com novos mecânicos, seja ao trocar de segmento de atuação, mudar para empresas com culturas organizacionais opostas ou querer subir a todo custo, queimando etapas. Vejamos os riscos e as maneiras de minimizá-los, evitando eventuais derrapadas em sua carreira.

A maioria dos profissionais se especializam com o tempo em determinado mercado. Conhecer as estratégias, politicas, fornecedores, clientes, concorrentes, marcos regulatórios e indicadores faz com que tenhamos uma melhor posição no grid de largada, seja para ganhar uma venda, conquistar um cliente ou resolver um problema. Mudar de segmento pode soar tentador para conhecer novas práticas e respirar novos ares. Caso este seja seu caso, saiba que será necessário fazer o melhor tempo em diversas voltas para alcançar os demais pilotos, já que ninguém quer bancar o retardatário.

Outros profissionais por sua vez constroem carreiras duradouras em uma única organização. Saber os procedimentos, os sistemas, as burocracias, os produtos, ramais e e-mails de cor e salteado, assim como ter amizades que extrapolem as barreiras corporativas faz parte após anos de casa. Mudar de ambiente muitas vezes se faz necessário, uma vez que não valorizar as pratas da casa não é exceção. Estudar a fundo o manual do proprietário para saber os detalhes do veículo, a ordem de entrada no box e o nome dos mecânicos deverão ser suas prioridades nas primeiras voltas.

Há ainda aqueles que tem como desejo subir ao pódio, custe o que custar. Visão estratégica, pulso firme para a tomada de decisões, liderança e sangue frio são características intrínsecas, seja em uma nova empresa ou mercado. Aqui vale o conhecimento do ecossistema, o engajamento dos colaboradores em metas de longo prazo e o entrosamento com os acionistas e o conselho. Pilotos de ponta devem circular entre a graxa, o glamour e o mundo politico das pistas, festas e patrocinadores. Ter uma poderosa rede de relacionamentos certamente ajudará nos primeiros meses, quando todos os holofotes estarão voltados para você. Não subir ao pódio nas primeiras provas pode ser frustrante para ambos os lados.

Enfim, ano novo é uma boa hora para estabelecer metas e objetivos para a carreira, criando um marco e um significado especial para a mudança. Estabeleça-as e pise fundo para conquista-las, porém tenha cuidado caso almeje conhecer novas modalidades, circuitos, equipes ou deseje subir ao pódio, queimando etapas. Apesar de trazer frescor a carreira tirando-nos da zona de conforto, trocar o conhecido pelo desconhecido pode ser bastante perigoso. Analise as oportunidades e lembre-se que o sucesso é uma combinação de esforço individual, trabalho em equipe, ambiente colaborativo e conhecimento de mercado. Afinal ninguém consegue ganhar títulos sozinhos, mesmo com a habilidade de Schumacher. Boa sorte e que tenha uma breve recuperação.


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