Eventos como separação, doenças graves e morte têm impacto no desempenho no trabalho. Saiba o que dizem os especialistas para encarar esses momentos sem (muito) estresse
São Paulo - Deixe os problemas do lado de fora da empresa. Durante anos, essa frase pertenceu ao corolário de boas maneiras no trabalho. O escritório, diziam muitos líderes, não é lugar para discutir questões pessoais. Só que há uma verdade inconveniente a respeito dessa ideia: as pessoas carregam seus problemas para dentro da companhia. Cientes disso, os RHs criaram programas para auxiliar os funcionários mais estressados.
Atualmente, cerca de 30% das grandes organizações no Brasil oferecem aos empregados serviços de apoio psicológico, jurídico e financeiro. Mas mesmo esses bons programas têm dificuldade para cobrir as questões mais importantes da vida, como paternidade, separação, doenças graves e morte. Não existe regra para tratar desses eventos, que podem ter efeito imprevisível sobre o desempenho profissional, o que torna difícil para chefes e colegas lidar com gente nessa situação.
Em boas empresas, uma saída dos RHs tem sido encaminhar o colaborador a coaches ou terapeutas ocupacionais. O objetivo é mantê-lo no prumo enquanto atravessa uma mudança radical. Embora cada ser humano reaja de forma particular à dor e à alegria, é possível identificar comportamentos semelhantes diante de determinados períodos da vida. Em momentos de luto provocados por perdas, verificase tristeza, apatia, compulsão, diminuição da autoestima, alterações no sono e recolhimento.
"No luto, tem-se menos energia para interagir com familiares, amigos e colegas de trabalho porque é necessário empregá-la para cuidar da ferida emocional", diz Lindinaura Canosa, vicepresidente da Sociedade de Psicanálise do Rio de Janeiro. A produtividade não cairá, obrigatoriamente, durante ou depois de uma situação dolorosa. Às vezes, a reação é oposta: o rendimento até aumenta porque a percepção fica mais acurada e o trabalho acaba servindo como válvula de escape.
Diante de situações extremas, em especial doença grave (própria ou de pessoas próximas), o profissional pode rever seus valores e adquirir um novo comportamento. Objetivos previamente estabelecidos pela empresa podem deixar de fazer sentido. Há um risco de queda no desempenho e é preciso tomar cuidado para mantê-lo em níveis adequados. "Um novo ser humano irá à companhia, mas as metas já definidas têm de ser entregues", diz Carlos Boschetti, que fez carreira executiva em empresas como Audi, Embratel e AT&T e hoje atua como coach.
O designer Vitor Mendonça, de 31 anos, teve altos e baixos de produtividade durante o período em que o pai lutou contra um câncer. Morando em Nova York, longe da família, seu desempenho até aumentou. "O que fiz foi me empenhar ao máximo para mandar notícias boas para ele, mergulhei nos estudos e no trabalho", diz. Após a morte do pai, Vitor caiu em depressão e sua produtividade foi lá embaixo.
Ele precisou mudar de faculdade devido ao fraco rendimento e teve de reduzir sua jornada de trabalho. Para dar a volta por cima, Vitor contou com os amigos, os familiares e um terapeuta. "A maior lição foi aprender a pedir ajuda e a tirar proveito disso de maneira positiva."
Casos graves
Ao deparar com uma situação imprevisível, como doenças graves ou morte, o profissional deve manter a calma e informar o chefe, os colegas e a equipe do ocorrido. Nesse caso, não vale a pena esconder as informações, até porque você poderá ter de se ausentar da empresa e precisará justificar a falta. Também é interessante tentar prever quais consequências a situação de emergência pode trazer para sua rotina.
"É necessário pensar quais tipos de impacto vão ser criados na produtividade do profissional e dos colegas", diz o coach Carlos Boschetti. Muitas vezes, há dúvidas sobre o quanto se deve falar para o chefe. Não há regras a respeito desse assunto, porém, antes de tomar a decisão, o mais indicado é mapear o ambiente.
"Uma possibilidade é lembrar como a companhia tratou casos semelhantes, o que as pessoas fizeram, como se expressaram e como o chefe se comportou", diz Renata Kurtz, supervisora das disciplinas de Organizações do IAG, escola de negócios da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
Fonte: Revista Exame
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