segunda-feira, 15 de março de 2010

Os Processos Seletivos na Berlinda

O que Você Faria? (El Metodo), de Marcelo Piñeyro, não é apenas mais um filme envolvendo as corporações modernas. De imediato, podemos imaginar duas perguntas que o filme deixa no ar. Até onde você chegaria para conseguir um bom emprego? E por outro lado, até onde uma corporação pode forçar alguém a ir, para lhe dar esse emprego?

Por aí, você já pressentiu que é um excelente filme para trabalhar temas relacionados com recrutamento e seleção, assédio moral, respeito, valores, competição e outros.

O filme é uma adaptação de The Gronholm Method, de Jordi Galceran Ferrer – uma peça muito popular na Espanha – que segue candidatos forçados a passar por uma estranha bateria de testes, a fim de conseguir um emprego numa firma de Madrid.

Com um número maior de personagens do que os apresentados na peça, o filme de Piñeyro reúne sete candidatos esperançosos em conseguir uma posição de administrador de alta gerência, numa companhia que, por sua vez, tem uma série de posturas e regras muito estranhas.

A história começa com os candidatos sendo conduzidos para um escritório high tech por uma secretária com um sorriso nitidamente pré-fabricado.

Eles são reunidos numa espécie de suíte e começam a ser descartados após passarem por testes psicológicos, através do assim denominado Método Gronholm que, entre outros procedimentos, joga um candidato contra o outro. Em cada turno, um perdedor é eliminado e o vencedor será aquele que resistir até o fim e, digamos assim, conseguir permanecer de pé. Enfim, uma espécie de reality show corporativo. Ou Darwin radicalizado.

Uma série de tarefas é apresentada ao grupo. Rapidamente, elas vão ficando cada vez mais intensas psicologicamente, na medida em que os candidatos se defendem atacando os outros.

Algumas cenas com os candidatos já possibilitam muitos tópicos para debate: o educado e obsequioso Henrique é eliminado numa discussão hilariante envolvendo delação e confiança. Entre os mais jovens, Carlos está disputando o cargo com sua antiga namorada Nieves. De outro lado, o machista Fernando já se aproxima da meia idade. Após um ataque pessoal particularmente brutal, Carlos pede desculpas ao seu alvo dizendo que a agressão apenas faz parte do papel que ele tinha que desempenhar na tarefa.

E por aí vai. Aos poucos, nós espectadores vamos penetrando na personalidade de cada candidato, seus estilos, reações e atitudes. Cada um deles carrega a certeza ou a esperança de que será o escolhido e isso faz com que o processo de eliminação seja ainda mais contundente.

As atuações, de um modo geral, são bastante convincentes, dando à história cores e nuances ora trágicas, ora cômicas .

Da rua são ouvidos os ruidosos protestos anti-globalização, o que pode soar exagerado ou fora de propósito. No entanto, eventuais falhas de roteiro são desculpáveis num drama que capta a atenção e levanta uma questão primordial no dia a dia das organizações no mundo de hoje: a idoneidade, a validade e, de certa forma, até a legalidade dos processos seletivos que algumas empresas vêem utilizando. E de que forma os candidatos – que se encontram, na maior parte das vezes, em situações de extrema fragilidade – podem ser amparados ou protegidos quando são submetidos a determinados testes, que agridem a sua dignidade e a sua auto-estima.


por Myrna Silveira Brandão
Fonte: rhnews.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário